A União Europeia considera as suas próprias populações. Votam, logo são mais valiosas do que outras que a União até ajuda a dizimar. E agora, atacada, a União tenta escudar-se: estende ao longo das suas fronteiras muros quilométricos de arame farpado.
Quer travar ou impedir o ingresso de refugiados que fogem da Síria e de países próximos martirizados por conflitos bélicos intrincados, tão terríveis e destruidores que quem a eles assiste de longe não os consegue entender devidamente (pois o jornalismo, hoje, funciona com trava-línguas). Todavia, a União Europeia, fiel apoiante das estratégias americanas desenvolvidas naquela região, clama por vingança após atentados de Paris e França declara guerra ao designado Estado Islâmico. Quer dizer, a força que antes exibia mostra-se em fraqueza.
A tineta securizante alastra pelo mundo e o medo instala-se nas populações expostas a ataques terroristas de qualquer tipo desferidos de súbito em qualquer lugar. Mas haverá verdadeira segurança contra a eventualidade de tais ataques, persistindo o fechar-de-olhos às dezenas de regimes que negoceiam com o E. I. e, portanto, o financiam? Dará resultado tentar uma cura da doença sem tratar do que a provoca?
Vê-se que a União Europeia não se mostra em condições de responder à crise dos refugiados e agora não parece preparada para enfrentar a iminência de novos atentados (e, lembre-se, nos de Paris aparecem cidadãos europeus). A Europa-fortaleza pode proteger de um terrorismo deste tipo quem, onde, quantos? Por este caminho, o seu isolamento e as suas contradições internas vão crescendo.
Os países do Sul distanciam-se, os do Leste arquivam o tratado de Schengen, Londres ameaça com referendo, Catalunha avança para a independência… Os refugiados que chegam ansiosos por paz e segurança são recebidos por hipocrisia e mais hipocrisia envolvida em retórica e mais retórica.
Todavia, o envelhecimento da população, isto é, o fraco nível dos nascimentos nos Estados-membros não é problema demográfico resolúvel de uma penada. Deriva de um complexo de crises que exigem múltiplas abordagens, não apenas a assimilação de massas jovens imigradas. A União Europeia encontra-se sob uma acentuada paralisia económica geral e mesmo à beira da deflação (que tanto faz sofrer os centros financeiros) para a qual a política da austeridade quis ser remédio - e foi estímulo.
Por outro lado, o sistema monetário não ajuda tal como a diversidade das políticas fiscais, a existência das ilhas-paraísos onde se acoitam os lucros das maiores empresas. Os governantes e a governança da União debatem-se em sérias dificuldades. Entretanto, o aumento das despesas (policiais e militares) a fazer por países sob ameaça talvez sirva para demonstrar quanto a “indústria do terrorismo” pode ajudar a desenvolver a estagnação da economia graças a uma economia de guerra (que a comunicação social, difusora multidireccional do medo, está a pedir).
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