segunda-feira, 11 de abril de 2016

Offshores: escândalo e violência


A estrondosa falência de grandes bancos em 2008, que rastilhou a explosão da crise actual, já então existente, parece não ter alertado deveras para a radical mudança por que o nosso mundo passava. De repente, o mundo era outro. Bastará agora o terramoto provocado pelo escândalo dos Panama papers para um acordar geral dentro do pesadelo?

panama2.jpgÉ preciso compreender todos os alcances essenciais da mudança sofrida. De contrário será apenas o barulhar dos escândalos que ecoam na comunicação social com a dimensão planetária da corrupção e dos corruptos, um barulhar que depressa se dissolve e apaga na desmemória colectiva. Objectivamente, com a máxima crueza, ficámos perante uma ampla janela aberta para a caverna de Ali Babá e sua quadrilha de ladrões e convencidos de que não é a única nem sequer a pior.
A firma de advogados do Panamá em foco, fundada em 1977, já criou umas trezentas mil empresas offshore nuns 40 países e emprega mais de 500 pessoas. Calcula-se que o volume de capitais envolvidos na pretensa “criação” destas empresas excederá o dobro do orçamento global da União Europeia. Por aí se poderá avaliar quanta riqueza já foi subtraída à economia real das nações e empobreceu os povos.
Sabemos que uns doze governantes, centenas de políticos, milhares de pessoas famosas e centenas de milhares de empresas escapam aos impostos, processam lavagem de dinheiro desonesto, alimentam negócios de armas, traficâncias. Sabe-se, igualmente, que na União Europeia (500 milhões de hab.) a fuga ao fisco é calculada em dois mil euros anuais por cada cidadão. Os contribuintes de cada país também sabem como se multiplicam por todo o lado as dívidas: dos Estados, dos orçamentos dos governos, dos bancos, das empresas - e até parece que o BCE não imprime 70 mil milhões novos cada mês!
Na verdade, as democracias (mais ou menos pouco democráticas) passaram a servir descaradamente os interesses da alta finança com o apoio das maiorias eleitorais que os elegem. A riqueza concentrou-se em tão poucas mãos que o poder financeiro, clandestino e naturalmente especulativo, assumiu o controlo efectivo do poder. Novidade nenhuma: do facto têm vindo a dar-nos notícia a WikiLeakes em 2010, Edward Snowden em 2013, e, agora, os Panama papers divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.
Obviamente, a única resposta viável está nas mãos dos povos eleitores de cada país. Aflige-os o desemprego e o emprego sem direitos, a perda do estado social e dos direitos cívicos da democracia, a subida dos impostos. Tamanha concentração da riqueza é desigualdade violenta e escandalosa. Urge abolir, radicalmente, os paraísos fiscais do planeta em nome da decência e da justa legalidade (e se os governantes e demais forças políticas não se impuserem aos interesses criados, bem poderemos todos dizer adeus à nossa civilização)!

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