sexta-feira, 11 de outubro de 2013

É escritor porfissional?


Nunca me apeteceu ser ou vir a ser escritor profissional. É, pois, com alguma estranheza que me deparo com praticantes da escrita que afirmam, e logo nos seus começos, que querem ser “profissionais”. Por outras palavras, querem viver exclusiva ou principalmente do que as letras lhes rendam.
Aspiração legítima. O trabalho da criação literária, sendo diferente e deveras exigente, é trabalho a remunerar como qualquer um outro. Mas poderá ser mesmo “profissão” regular?
Tenho dúvidas. Sempre tive. Não consigo conceber a criação literária como ocupação diária com horário marcado, fins de semana, período de férias…
Concebo tão só o aparecimento de um autor subjugado por uma força que o amarra a um esforço maior do que a sua vontade e que ele realiza, sem ter outra saída, envolvendo a sua totalidade humana como quem se liberta da febre de uma pulsão imperiosa. Assim, mais ou menos, costuma sair a Obra com marcas de génio. Agora o contraste: um autor “profissional”, cultor de oficina, hábil em recursos de “escrita criativa”, que trabalha para lançar no mercado a cada ano obra(s) com quatrocentas ou quinhentas páginas…
Lembro muitas vezes, em conversas pessoais, que fui para o jornalismo porque não via outra profissão mais aceitável. No jornal praticaria também a escrita e eu já andava “naquele tempo”,
desde que publicara os livros iniciais, há bons anos, a colaborar na imprensa então enriquecida com suplementos literários. A literatura nem com cantos de sereia me daria para viver.
Era então capaz de gostar da literatura ao ponto de a amar. Amar deveras, sinceramente. E continuo sem mudança.
Creio mesmo que é preciso começar cedo, como leitor, a gostar fortemente de literatura. A distinguir e a saborear a expressão literária em prosas e poemas onde a arte da escrita fulgure com belos esplendores. Não é verdade que o autor, como escritor, será o que foi (e será sempre) enquanto leitor? [Imagem: pintura de porta em rua do Funchal, Madeira.]

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Em busca de alento

O leitor atento destas páginas deve vir notando o interesse, mesmo o fascínio, que certas palavras carregadas de história em mim despertam. Fascina-me realmente o que podemos encontrar devassando o que nelas se guarda. E assim terão notado quanto me atraía o vocábulo anima, que encontramos na raiz latina da alma”, a tal que os teólogos dizem eterna, e na animação que em tempo recessivo nos escasseia.
Porque a semântica de anima (sopro, ar; alento) aponta para respiração, fácil era perceber que o vivente animado tem alma” na justa medida da sua animação. Mas logo a respiração me guiou para o verbo folgar” que, como recordaremos, não passa de um folegar, dar muito aos foles do peito, portanto de uma animação. No entanto, outras descobertas novas se fazem devassando vocábulos de uso corrente.
A respiração também aparece no alento”, substantivo de abordagem não menos reveladora. Significa, sem segredo, força para respirar; bafo, respiração; força; ânimo. Ou ainda, por outra via - de (h)alenitu - que o Dicionário regista, exalação; respiração
Curioso é que ao falar de anima ou folegar, ou de alento, a semântica aponte de imediato, com impecável pontaria, para a função respiratória. A lembrar-nos, afinal, que é função impreterível de todo e qualquer organismo vivo que vai continuar vivo. Mas, com especial relevância, que é função a mais vital da espécie humana...
Logo, são diversos os vocábulos que aludem ao fenómeno vida, que é respiração, bafo, exalação. E “hálito”? (“ar expirado, sopro, viração, bafejo”, do lat. halitu); e “anelo”? (do v. lat. anhelare, “respiração ofegante”).
Na sua variedade, exprimem a admiração maravilhada que sempre rodeia o fenómeno da vida a eclodir em acto onde quer que se anuncie. Mas como compreender verdadeiramente o fenómeno? A inteligência humana aplica-se, esforça-se e acaba sem mais alento...
Avança pelos organismos vivos, vai do mundo biológico até ao inorgânico, lá onde se dilui a fronteira entre o último ser vivo, digamos um vírus, e os processos físico-químicos. A ciência esclarece mais e mais, identificando a alma teológica com a respiração natural do ser vivo. Mas se quiser explicar o fenómeno da vida tal como o conhecemos no planeta, talvez considere que a Terra foi atingida há milhares de milhões de anos por um asteróide portador de elemento fecundante, uma simples bactéria, trazida do respirar cósmico...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Veleiro dentro da garrafa de uísque: escultura em espaço público de Londres.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Conversa sobre ebooks

Envolvido como tenho andado com as edições digitais dos meus livros, talvez seja interessante tornar à conversa sobre o tema. Não sendo já verdadeiramente novo, continua no entanto entre a ser pouco frequentado. É assim a conversa que hoje me traz de regresso à coluna.
Variados aspectos do assunto são ainda pouco conhecidos exactamente porque os ebooks continuam a ser considerados por muitos leitores algo como uma curiosidade de feira do livro para atrair minorias de maluquinhos dos computadores e fãs da Net e não como a proposta válida que mostra ser. Porém, devidamente apreciada, a novidade tem óptimas condições de agrado. E neste ponto advirto outra vez: creio que os ebooks têm lugar junto com os livros impressos: o suporte digital complementa o do papel.
Naturalmente, o utilizador do suporte digital necessita de inovar alguma habituação. Desde logo, tem a possibilidade de adquirir, se não de graça, pelo menos a preço muito reduzido, as obras que deseje sem percorrer livrarias e postos de venda onde raramente topa com o que procura e se amontoam em vertiginosa rotação as capas berrantes dos verbos de encher. Conveniência deveras estimável: a fácil arrumação de uma biblioteca virtual que (viva!) deixa as árvores de pé...
Um vulgar aparelho (reader) pode albergar uma biblioteca inteira, digamos mil livros. Que o leitor adquire, no idioma que lhe interesse (lusófonos: atenção ao catálogo) esteja onde estiver no planeta. E o aparelho não é caro.
As funcionalidades de cada um variam, mas podem permitir alterar o tamanho dos textos, inserir marcadores, notas, etc.; e, em ligação com o computador, imprimir o livro. Graças à computação móvel, hoje até um vulgar telemóvel (smartphone) acede às bibliotecas e às leituras. A leitura chega a toda a parte.
Claro, além da necessária habituação do leitor ao aparelho, o leitor terá que se habituar a compras online. O que implica pagamentos com cartão, transferências virtuais. Algo de banal nos tempos que correm...
Entretanto, a edição literária entrou numa conjuntura complicada também para numerosos autores portugueses. Alguém duvida que os ebooks vão expandir-se entre nós no futuro? E que o mercado dos livros em papel vai diminuir?

terça-feira, 17 de setembro de 2013

ebooks: mais novidades


Volto a esta coluna sentindo o abandono em que, desde meados de Julho, a tenho deixado.Que os amigos me desculpem tanta ausência! Quando as energias (corroídas pela idade) são poucas, facilmente se gastam investidas numa ocupação... e o tempo, livremente, voa.
Mas a primeira etapa desta corrida está quase no fim, de maneira que trago hoje umas boas novidades.  Não são ainda as novidades todas que tenho em preparação. Porém, o que virá a seguir chegará avançando passo a passo. O caminho faz-se... andando.
E aqui têm os cinco volumes da colecção «Tapete Voador» com as ilustrações originais, todas assinadas por artistas de grande renome.

Também para crianças, eis os primeiros três volumes da colecção «As cinco Graças»; ficará completa com outros dois. São histórias destinadas à primeira infância, para o adulto ler se a criança ainda não puder, e inspiram-se nas graças da mitologia; a pintura, a poesia, o teatro e, a sair, a dança e, por fim, a música.


 Outra novidade na área da chamada literatura infanto-juvenil é esta. Destina-se a leitores com 8-9 anos. A seu lado irão ficar variados títulos de minha autoria, como A Nuvem Cor-de-Rosa, O Fogo Roubado, Leitão ciclista em busca do paraíso, O Monstro de Mil Caras, etc.

Na Amazon, Kindle Direct Publishing, estão já disponíveis estes livros para leitores adultos em novas edições: seis volumes, o primeiro sobre temas de Informação e Jornalismo; os seguintes de contos e narrativas, e o último, «um clamor pela "arte literária"», de crónica-ensaio.
Gostaria de deixar bem afirmado que a preparação de edições digitais é trabalho complexo e absorvente. Envolve dificuldades e complicações que, para se resolverem, carecem de tempo e paciência. A experiência antes adquirida na edição literária convencional (em papel) é ajuda útil mas, na verdade, agora de pouco serve. Os livros para crianças, especialmente por causa das ilustrações, levantam dificuldades desafiantes...
Penso que vale a pena o esforço. Vale a pena, quero dizer, para o autor e os seus leitores. Os interessados podem adquirir na Amazon as obras impressas ou digitais, estas para instalar nos leitores electrónicos que usem (tablets, readers, computadores pessoais; e se, tendo comprado a obra impressa quiser depois obtê-la no formato digital, será a preço meramente simbólico). Quem se habituou aos ebooks também já se habituou aos preços baixos que por lá se praticam.
Termino prometendo anunciar aqui as edições digitais das minhas obras que virão a seguir.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O tempo voa...

Voando, o tempo passou... Mês e meio agarrado a ficheiros Word, formatação de páginas e ficheiros, imagens e digitalizações, revisões assim e assado, compatibilidades. Agora posso dizer: a tarefa de publicar livros digitais, isto é, de os preparar para edição de autor parece custar tanto quanto escrevê-los...
Resultado concreto à vista, pouco. Quatro edições, três da colecção As Cinco Graças e uma outra, as Estórias Populares. Representam só o começo.
Tarefa complicada implica demoras. Tentativas sucessivas e erros parciais. Mas é preciso continuar em frente.
Edições digitais, os populares ebooks, são na verdade uma alternativa interessante para os leitores que pretendam poupar papel, espaço na estante doméstica e algum dinheiro na compra de livros. Os leitores destas edições habituaram-se, além disso, a pagar preços bem mais modestos. É esse o caso normal, por exemplo, na Kindle da Amazon.
 Aqui estão as capas (não são links) das minhas quatro novidades”.