O relvado apareceu coberto de florinhas, manto de brancuras que pintalgava a verdura mais densamente na zona onde o terreno se afundava um pouco numa bacia de frescura e depois diminuía em torno até se esgotar na periferia. Era um tapete de camomilas que despontava noutros pontos do parque, adensado nos baixios onde humidade e húmus se concentram. Camomilas bravas, quero dizer.
Enfim, ervas entre outras ervas, de hastes erguidas à mesma altura, mas não só ervas, também eram flores, de corolas orientadas para o sol que as inunda e já sem o rocio matinal deixado pela noite pois a tarde em promessa se abria. Manto de florinhas humildes surgindo de repente no relvado. Surpresa de quem, esquecido da Primavera, encontra concentradas no mês de Maio as quatro estações de todo o ano.
Na orla do relvado, rente aos pés que transitam pelo estreito passadiço, ergue-se, solitária, uma camomila. Paro a vê-la, assim isolada na ilharga do manto, pertencendo ao conjunto e, ao mesmo tempo, afirmando-se numa solidão individualizada. Arrastada para a orla, a semente soube cumprir a função que lhe cabe e ali está ela florida como todas.
Mas eis que uma criança, com pezinhos de ave a sair do ninho, corre pelo coberto verde de florinhas brancas atrás de bola colorida que rebola. Pega-lhe, erguendo-a nos braços, e sorri, feliz, para os pais como se posasse para fotografia ou quisesse oferecer-lhes uma imagem querida para guardarem. Eu torno a contemplar a camomila solitária, mas vejo ainda uma criança a caminhar, com passos inseguros, em direcção aos pais.
Leva a bola nas mãos. A bola é o seu mundo. Redondo, completo.
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