Os dados da situação são bem conhecidos. Os fumadores estão a diminuir e até arranjam coragem para repudiar a nicotina por volta dos 45 anos de idade, mas as fumadoras seguem ao contrário, crescem. De modo que em Portugal se registam 12 mil mortes por ano devido ao tabaco (cerca de 30 pessoas por dia, em média) enquanto, no mundo, segundo a OMS, sucumbem seis milhões de fumadores.
É bom que todos ajudemos os viciados a largar tão maléfica dependência por menos que eles agradeçam e é isso que o Governo, demonstrando que nem tudo quanto faz, sem excepção, é mau, aperta o laço das restrições (mínimas e tímidas). Agora dispõe-se a alargar a quantidade de espaços fechados onde não se pode fumar. E quer tornar os maços de cigarros de aspecto tão repelente que pode chegar a ser sinistro.
Sem dúvida, será mais um pequeno passo dado na direcção correcta. Os custos sociais, em doenças e dias de trabalho perdidos provocados pelo tabagismo são impressionantes, arrasadores. Mas, evidentemente, outros custos lhes são associados, em sofrimentos individuais, perdas da qualidade de vida, mortes prematuras.
Avançar com pequenos passos, neste assunto, pode parece conveniente. Mas tanta paciência, tanta tolerância dada pelos governos aos fumadores leva-me a consultar o arquivo da memória: há quantos anos anunciei que, finalmente, “a liberdade do fumador vai acabar”? Foi há trinta… ou ainda mais anos?
Portanto, os pequenos passos esticam o caminho a percorrer por inteiro. Um único país, somente, proibiu no mundo o comércio e o consumo do tabaco. Alguns outros dispõem-se a alcançar a meta dentro de uns vinte anos…
Entretanto, por aqui e por ali, vamos continuar a cruzar-nos com fumadores parados ou a andar pelas ruas e outros lugares públicos, cegos para o que não seja a satisfação egoísta do seu vício. Acaso admitem que estão a poluir o ar que os seus próximos têm que respirar? Poderão compreender que a sua liberdade pessoal, ali, termina onde começa a liberdade dos outros?
A retórica dos adeptos do tabagismo, à falta de melhor, recorre ao lugar-comum: argumenta que também a atmosfera anda saturada de poluição; logo, a esta tirada, acrescenta outra como válida desculpa! Sim, é verdade, a qualidade do ar nos centros das grandes cidades é frequentemente de muito baixa qualidade. Tal como a qualidade da água que nos servem e dos terrenos e culturas que produzem os nossos alimentos… usando por vezes, ilegalmente e em segredo, organismos geneticamente modificados.
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