segunda-feira, 25 de abril de 2016

O Livro no seu Dia

livro-1.jpgAnteontem, sábado, tivemos em comemoração o Dia Mundial do Livro e do Autor. Aproveitámos bem esse dia (enredados nas múltiplas redes que lançam por cima de nós e dos livros) para descansar das nossas ralações e tormentos? O gutenberguiano objecto anda a sofrer maus tratos e o seu Autor, reduzindo-se à condição de produtor de textos, vulgo conteúdos, anda por aí a esbanjar status e a proletarizar-se como uns jovens jornalistas tarefeiros pagos a recibo verde.

A auréola que os autores tiveram outrora apagou-se de todo. Os autores agora são escreventes, fabricantes de textos para o mercado, algo que uma máquina digital, que até já conseguiu compor bons poemas em Coimbra, poderá fazer ainda melhor, além de mais barato e depressa, esperemos só um bocadinho para ver. Depois, esperando um pouco mais, iremos atingir a maravilha suprema: a máquina digital capaz de compor um romance, digamos romance por exemplo, aplicando ingredientes de teor diegético e características de estilo ditados à máquina, via marketing, pela maioria dos leitores-consumidores…
Obviamente, os actuais fabricantes de textos ficarão dispensados, desempregados. E o que restar então de autêntica Literatura será pérola rara perdida na confusão imensa das bagatelas do consumismo com os valores. A consumar-se ficará o que venho prognosticando desde há anos – a extinção da Literatura.
De facto, a erosão da arte literária tem vindo a ser constante. A educação do gosto dos leitores foi esmagada pelo cilindro compressor da massificação. O ambiente da cultura e da literacia em geral, igualmente, em vez de melhorar, dá sinais de regressão.
O mundo literário vai sendo percorrido e dominado por autores de best-sellers internacionais (não como nuvens de gafanhotos mas não menos vorazes). O objectivo que um autor hoje ambiciona atingir é vender muito no seu país de modo a entrar na internacionalização que as traduções para outras línguas lhe permitirão. Assim, com uma mesma obra feita, faz mais e mais ganhos.
Os livros destes autores atravessam fronteiras e são publicados pelas editoras “normais”, isto é, que fazem negócio com os livros, fornecendo livrarias e grandes superfícies onde aparecem as novidades aos montes, de capas vistosas. Se uma editora “normal” publica um ou outro autor que ainda vende pouco, concede algo excepcional (aceita o fraco negócio). Explica-se, portanto, a curiosa circunstância de, agora, os autores que escrevem as suas obras tenham que sair e trabalhar afincadamente para as vender em proveito dos editores, que até poderão ser os próprios autores…

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Acabemos com as offshores!


Ninguém, com migalha de juízo, pode admitir que estes alçapões sem fundo foram criados e espalhados pelos quatro cantos do mundo por conveniência das classes médias. Nem vai supor que as sociedades de advogados envolvidas nos selváticos emaranhados contidos nos “paraísos fiscais” se dediquem tão-só, conforme alegam, a dar apoio jurídico às empresas e a ajudar a gerir fortunas. Os jornais, toda a comunicação social, levantando uma ponta do véu, mostram que não se esconde por lá a riqueza dos 99% da população mundial; esconde-se, sim, o gigantesco poder financeiro acumulado pelo famoso 1%, poder tão forte que move legisladores e governos.

Ora, nos Panama papers, não aparecem todos os multimilionários do planeta, bem acompanhados, como escreve um jornal, por burlões, políticos corruptos, reis da droga, traficantes de armas… interessados por igual em fugir aos impostos e disfarçar dinheiro ilícito obtido de negociatas secretas. De Portugal, nos 11,5 milhões de documentos (papers) em análise, não constam muitos fregueses: serão, diz-se, algo mais de duas centenas. Pedir menor opacidade às offshores ou propor melhor controlo das suas malas-artes, é oração nada piedosa, de mãos postas suplicando que tudo continue na mesma.

As fugas ao fisco têm crescido a par da corrupção. Afinal, o que impede o administrador de uma grande empresa ou de um banco de negociar a compra de uma outra empresa em maus lençóis ou de um outro banco insolvente, pagando o preço e, por baixo da mesa, recebendo uma comissão? De solicitar, ou conceder, um grande empréstimo a empresa insolvente beneficiando também de comissão secreta?
O mundo dos negócios tornou-se mafioso (segundo a Oxfam, 50 grandes multinacionais têm 1,4 biliões de dólares em offshores, causando 111 mil milhões de perdas anuais de impostos nos EUA). Mas não são apenas as grandes empresas que escondem lucros naqueles buracos negros para escapar aos impostos. Há milhões e milhões ilegais, gerados pela corrupção, em transacções de compra-venda, que se acoitam no mesmo refúgio.
panama.jpgNo fim de contas, a política austeritária tem origem nos imensos oceanos de dinheiro saído das economias reais, sobretudo em países com dificuldades de desenvolvimento, onde as próprias carências de investimento convidam à corrupção e à fraude. Mas as offshores servem à maravilha para acolher “fundos abutre”, como os que atormentaram a Argentina endividada. Até parece que já servem mal para pôr a render tanta riqueza subtraída aos povos que dela agora necessitam para responderem ao desemprego, à estagnação da economia e a tantos outros seus problemas sociais.
Um programa mundial, sistemático e geral, de extinção das offshores, é imperativa. Argumentos contra este objectivo essencial são pura perda de tempo. Vejamos: então o inconcebível e monstruoso Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento, elaborado pelos EUA em parceria com a União Europeia, que põe as multinacionais a mandar em estados e governos, não foi também possível?

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Offshores: escândalo e violência


A estrondosa falência de grandes bancos em 2008, que rastilhou a explosão da crise actual, já então existente, parece não ter alertado deveras para a radical mudança por que o nosso mundo passava. De repente, o mundo era outro. Bastará agora o terramoto provocado pelo escândalo dos Panama papers para um acordar geral dentro do pesadelo?

panama2.jpgÉ preciso compreender todos os alcances essenciais da mudança sofrida. De contrário será apenas o barulhar dos escândalos que ecoam na comunicação social com a dimensão planetária da corrupção e dos corruptos, um barulhar que depressa se dissolve e apaga na desmemória colectiva. Objectivamente, com a máxima crueza, ficámos perante uma ampla janela aberta para a caverna de Ali Babá e sua quadrilha de ladrões e convencidos de que não é a única nem sequer a pior.
A firma de advogados do Panamá em foco, fundada em 1977, já criou umas trezentas mil empresas offshore nuns 40 países e emprega mais de 500 pessoas. Calcula-se que o volume de capitais envolvidos na pretensa “criação” destas empresas excederá o dobro do orçamento global da União Europeia. Por aí se poderá avaliar quanta riqueza já foi subtraída à economia real das nações e empobreceu os povos.
Sabemos que uns doze governantes, centenas de políticos, milhares de pessoas famosas e centenas de milhares de empresas escapam aos impostos, processam lavagem de dinheiro desonesto, alimentam negócios de armas, traficâncias. Sabe-se, igualmente, que na União Europeia (500 milhões de hab.) a fuga ao fisco é calculada em dois mil euros anuais por cada cidadão. Os contribuintes de cada país também sabem como se multiplicam por todo o lado as dívidas: dos Estados, dos orçamentos dos governos, dos bancos, das empresas - e até parece que o BCE não imprime 70 mil milhões novos cada mês!
Na verdade, as democracias (mais ou menos pouco democráticas) passaram a servir descaradamente os interesses da alta finança com o apoio das maiorias eleitorais que os elegem. A riqueza concentrou-se em tão poucas mãos que o poder financeiro, clandestino e naturalmente especulativo, assumiu o controlo efectivo do poder. Novidade nenhuma: do facto têm vindo a dar-nos notícia a WikiLeakes em 2010, Edward Snowden em 2013, e, agora, os Panama papers divulgados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.
Obviamente, a única resposta viável está nas mãos dos povos eleitores de cada país. Aflige-os o desemprego e o emprego sem direitos, a perda do estado social e dos direitos cívicos da democracia, a subida dos impostos. Tamanha concentração da riqueza é desigualdade violenta e escandalosa. Urge abolir, radicalmente, os paraísos fiscais do planeta em nome da decência e da justa legalidade (e se os governantes e demais forças políticas não se impuserem aos interesses criados, bem poderemos todos dizer adeus à nossa civilização)!

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O pioneiro da biodiversidade


Foi há um século: o botânico Nikolai Vavilov concebeu em 1916 a ideia pioneira da biodiversidade natural. Percebeu que as plantas, organismos vegetais da natureza, são diferentes devido à genética e a factores ambientais, mas que até são domesticáveis. A ideia empolgou-o tanto que sonhou poder acabar com a fome no mundo.
Vavilov (Moscovo, 25-11-1887) trabalhou em 1913-1914, em Londres, no laboratório de William Bateson, pioneiro da genética, a quem se deve, desde 1901, o sentido actual desta palavra. Os principais artigos que escreveu foram coligidos em volume e publicados em inglês em 1992 com o título Origin and Geography of Cultivated Plants. Além disso, Vavilov dirigiu durante vinte anos o Instituto Vavilov da Indústria Vegetal da União (antes Academia Lenine de Ciências Agrícolas da União [Soviética], fundada em 1920) e em 1924 criou o primeiro banco de sementes do mundo em S. Petersburgo.
Este notável cientista russo bem merece as comemorações do centenário da sua ideia pioneira. Vale a pena conhecer a sua vida e obra e, assim, participar nas homenagens em sua memória. Pelo que fez, Vavilov merece deveras todas as nossas evocações e aplausos.
Foi um viajante incansável e corajoso que percorreu durante dezasseis anos numerosos países, por vezes em guerra, em busca de sementes e conhecimento científico. Aprendeu mesmo quinze idiomas para poder falar directamente com agricultores nos países do globo que visitava. O prestígio internacional que atingia nos anos da Segunda Grande Guerra era indesmentível.
Porém, caiu em desgraça por manobras do seu maior inimigo, Trofim Lisenko (1898-1976), decerto mais político do que cientista e que, por sinal, fora antes promovido por Vavilov. Intrigando, conseguiu que este fosse preso em Agosto de 1940, portanto, nos anos de Estaline, e morreu na prisão de Saratov (Sibéria), em 26-01-1943, com 55 anos, consta que de fome.
Mas não tardou muito a reabilitação do seu nome e obra científica e o próprio Lisenko a cair em desgraça. Foram enormes os prejuízos causados por este à economia, e sobretudo à agricultura, com as suas teorias sem apoio da ciência. Todavia, envolve-se numa espécie de humor negro o facto de Lisenko ter vivido cerca de 78 anos e Vavilov ter sucumbido de fome num subterrâneo secreto.
Outra camada espessa de humor negro estará talvez na situação actual do mundo, onde milhares e milhares padecem e morrem à míngua de alimentos. Parece piada cínica dirigida ao pioneiro da biodiversidade, sonhador confiante no fim das carências alimentares da humanidade. Valha-nos, pelo menos, a existência do Grande Cofre de Sementes Global de Svalbard, nas montanhas do Árctico, inaugurado em 2008 – falta apenas semear todas essas preciosas sementes e banir de vez os transgénicos!

segunda-feira, 28 de março de 2016

O meu gato

gato.jpgO meu gato é selvagem. Vive na rua, é um pobre sem-abrigo, sem regaço nem almofada para ronronar numas sonecas. Conhecemo-nos há uns anos e somos amigos, ele lá fora no cantinho abrigado onde apanha sol e eu, aqui à janela, civilizado a imaginar-me também selvagem, a vê-lo.
Somos, pelos vistos, dois solitários. Assomo à janela, a meio da tarde neste limiar da Primavera, e ele ali está, a vinte metros de distância, sozinho, quase imóvel, aquecendo-se. Mas, dizendo eu que é “o meu gato”, esclareço que é assim como falo do meu amigo Alcides ou do amigo Andrade, um na margem sul do rio e o outro do lado extremo do oceano e do seu continente.

Porque, não há dúvida, este gato, malhado, quer ser mesmo um autêntico radical. Ter toda a liberdade, toda a independência. Um dia apareceu ali acompanhado por outro felídeo, seria uma gata namoradeira, tomou o seu banho de sol afastando-a meio metro, as tardes seguintes foram de feliz noivado, mas logo depois a bichana, descontente ou desiludida, desapareceu.

Este gato é dos que caem sempre de pé. Para chegar ao seu lugar ao sol tem que trepar, na rua, uma parede alta. Mas ele, no passeio, afasta-se medindo a distância, apoia-se nas patas traseiras e dispara o salto já de unhas afiadas para, como alpinista, marinhar muro acima e saltar para o interior do terreno.

Evidentemente, aquele lugar foi escolhido com a maior exigência. É um pedaço de cimento liso, na orla de um matagal bravio em terreno abandonado onde não é fácil penetrar nem foi fácil descobrir. E aquele pedaço liso, e limpo, fica no sopé de uma parede virada a sul onde o sol refulge, glorioso, toda a tarde.
Quentinho e sossegado para estar com o lado bom da vida. Não é fácil isto, não, ao que se vê por aí, tanta carne viva a arder nas chamas das fogueiras do burnout. Mas este gato sem nome sabe bem o que quer, sabendo querer pouco.
Descansa dormitando, de rabo encolhido, patinhas dobradas e a cabeça quase parada mas de atenção desperta. Uma única vez, porém, ergueu os olhos para a minha janela, olhámo-nos naquele instante e demo-nos a conhecer. Passou então a ser o meu gato.
Penso que ele consegue o milagre de saber tudo quanto precisa de saber. Não o posso garantir, mas talvez ele, ali cavilando, filosofe. Muda de sítio, deita-se agora num outro bocado de cimento batido pelo sol, talvez se inquiete com os refugiados da guerra que a Europa expulsa, com os palestinianos da pátria ocupada, com a situação no Iraque e na Líbia, com a paralisação global da economia e o poder sem freio da alta finança internacional que abraça asfixiando o mundo…

segunda-feira, 21 de março de 2016

Manuel Maria, poeta galego

m.maria.jpgAs relações culturais, ou antes, dos escritores e artistas das duas margens do rio Minho têm sido irregulares, esporádicas como a vontade de abraçar e de dançar. Mas, quando tal acontece, a festa vivida deixa sempre, dos lados de cá e de lá, apetite para mais. E, no ar, também uma interrogação (saudosista) sem resposta: porque há-de a festa ser assim tão escassa?

Um bom período de aproximação cultural luso-galega foi possível nos últimos anos ’60 e início dos ’70 do século XX, coincidindo de certo modo com o final do regime Salazar-Caetano. Envolveu escritores, pintores, poetas, cantores, académicos, jornalistas e múltiplas partilhas cruzadas, até que a eclosão do 25 de Abril concentrou o país sobre si próprio. Incluiu exposições documentais, recitais, palestras, congressos e publicação de livros e revistas.
Figura eminente nesse período em Portugal foi o meu amigo poeta Manuel Maria. Visitou Portugal diversas vezes, uma das quais, muito por ele recordada, com o pintor Pousa, e aqui lhe publiquei três livros: Sonhos na Gaiola, poemas para crianças (Lisboa, 1968); 99 Poemas (Porto, 1972), e Odes num tempo de Paz e Alegria (Porto, 1972). Depois ficámos “perdidos” um do outro até que vim a saber que Manuel Maria [F. Teixeiro] falecera já em 8-09-2004, na Corunha, com 75 anos.
O poeta nasceu na sua querida Terra Chã (Outeiro de Rei, 6-10-1929) e viveu em Monforte de Lemos, onde uma estátua o recorda em público, sentado à mesa e de livro na mão, e existe uma evocativa “Casa Manuel Maria”. Filho de camponeses, estudou para bacharel e foi solicitador. Participou nos anos ’60 na organização clandestina de partidos nacionalistas. Em 1985 abandonou a política e mudou-se para a Corunha, onde, hospitalizado, acabou por falecer. Realizou uma actividade literária intensa e imensa: desde 1950, publicou mais de meia centena de obras, sobretudo de poesia, mas também de teatro e antologias das suas próprias produções.
Recordo, por exemplo, Muiñeiro de Brétemas, a sua estreia, de 1950, e a sua última obra, Os Longes do Solpor, de 1993. A Wikipedia.pt lista pelo menos 25, desde Mar Maior, 1963. Trocámos abundante correspondência durante aquela meia dúzia de anos e visitámo-nos algumas vezes. Entretanto, fico preso a uma vasta rede de outras recordações, nomeadamente de Joaquim Santos Simões, um querido amigo de Guimarães, companheiro destas e de outras lides, José Maria Álvarez Blázquez e seu irmão (Edicións Castrelos, Vigo), J. L. Fontenla, Irmandades da Fala… mas como não recordar ainda os esforços, inúteis, que fiz pela publicação, em português normal, de parte significativa da obra literária de R. Alfonso Castelao?! [Imagem: Manuel Maria em retrato (pormenor) num cartaz.]

segunda-feira, 14 de março de 2016

O (des)Acordo Ortográfico

Repego mais uma vez no assunto verificando aqui, pelas “etiquetas”, que venho a comentar a situação ortográfica em que temos o Português desde 2008. Contei dez textos, em anos sucessivos, e hoje a situação não está menos incómoda nem menos desagradável. Mas, agora que a República tem um novo Governo e um novo Presidente, são muitas as vozes audíveis que pedem um debate urgente do assunto e, enfim, a sua conveniente resolução.
Vendo bem, a questão é meramente política e apenas requer uma resolução política. Portugal é - continua a ser - o único país do Acordo Ortográfico de 1990 que o aplicou oficialmente (na comunicação administrati-va e no ensino público) quando já era notório, o projecto falhara: não unificava (miragem esta que me levou a aceitar o A.O. durante algum tempo) e deixava cada povo lusófono entregue à sua própria deriva. Assim ficou o país, desse jeito, numa atitude que tinha (e tem) tanto de esquisito como de humilhante.
Convém não perder mais tempo a retirar o país da figura em que se colocou, sem esperar que algum dos outros signatários lusófonos oficialize também a norma ortográfica que notoriamente repudiam. Na verdade, o Acordo seria imperativo somente quando todos os países aderentes o ratificassem. Esta unanimidade, ponto essencial, enredou-se com outras confusões.
A principal será decerto devida ao segundo protocolo, de 2004, que alterou bastante o acordo inicial, anulando-o de facto, e que também nunca foi ratificado. Pode afirmar-se que se trata de um novo texto e nova convenção ortográfica e, portanto, para que possa vigorar de jure, terá que ser aprovado pelas partes, ou seja, remete o processo para o início. Mas ninguém está para tal, agora que até Artur Anselmo, presidente da Academia das Ciências de Lisboa, junta a voz a quantos lamentam que, nos anos decorridos, “ninguém tenha feito nada para melhorar este acordo”.
Sem dúvida, a situação ortográfica nacional é particularmente danosa. Agravou o conflito entre normas e aderentes, instalando uma confusão lamentável sobre qual é a escrita correcta. Neste caso, o rendimento escolar ressente-se a todos os níveis e o competente domínio da nossa língua materna acaba negligenciado.
Para compor o ramalhete, a disciplina da Literatura Portuguesa deixou de ser obrigatória no Brasil. Acrescente-se ao raminho mais uma flor. Parece que os países lusófonos têm tempo para discutir se a Portugal cabe o direito de propor o novo secretário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (a eleger livremente)…