Esteve aberta em Frankfurt, Alemanha, nos últimos três dias da semana passada, a Feira do Livro mais notória do mundo. Evidencia-se no plano editorial internacional por um gigantismo quase monstruoso. Concentra editores, agentes literários e autores chegados das sete partidas, que põem a trabalhar chusmas de jornalistas numa torre de babel linguística em que o Inglês predomina como língua franca.
O gigantismo do certame ressalta, até para quem o vê de longe comparando os 150 ou mesmo 200 expositores das feiras do Livro portuguesas com os 7.300 da Feira de Frankfurt provenientes de mais de cem países. Este ano, o seu programa cultural abrangia 3.400 eventos para animar oito pavilhões vastíssimos numa área onde caberiam mais de dez campos de futebol que os visitantes se derreavam de tanto palmilhar. Mas esta não é uma vulgar feira com stands, estantes e balcões a vender livros editados – ali vendem-se, principalmente, direitos de edição.
Julgo que a grande maioria dos escritores detesta a Feira de Frankfurt, não porque está a tornar-se elitista, mas por motivo idêntico ao que atrai os editores e agentes literários, junto com alguns autores desejosos de promoção internacional. Um dos escritores convidados este ano foi exactamente Paulo Coelho, considerado o autor (brasileiro) vivo mais traduzido no mundo, que tem página no FaceBook com 22 milhões de seguidores e no Twitter com nove milhões (de quem vi vários livros de autoajuda, junto a Saramago e Eça, entre a dúzia de volumes em português da biblioteca central de Vancouver, Canadá. Outros escritores, já com dezenas de traduções no seu activo, não falham Frankfurt igualmente interessados em alargar o universo dos seus leitores no estrangeiro.
Paulo Coelho, num colóquio com o director da Feira que esgotou a lotação do auditório e foi transmitida por circuito interno de televisão, manifestou uma forte adesão à edição digital dos seus livros. Aposta na conquista de mais leitores, crendo no entanto que a impressão dos livros em papel irá prosseguir. Reconhece afinal que os ebooks chegam a qualquer leitor com acesso à Internet em qualquer canto do mundo.
Tudo isto contribui para transformar o certame num centro de negócios útil, acima de tudo, para transaccionar copyrights entre editores e autores de best-sellers internacionais que acabam traduzidos. Ali se desenham e desenvolvem as estratégias “literárias” que estão a pôr meio mundo a ler cada vez menos autores de livros cada vez menos desiguais em obediência ao mercado e aos interesses da indústria. É, consumada, a massificação da leitura!
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